Carta à greve #1

Iniciamos hoje uma sequência de cartas à greve estudantil que se inicia na UFSC, rumo à greve nacional da educação. São apontamentos e esperanças para a construção da luta coletiva.

No dia 10, lançamos um texto analisando o movimento de greve na UFSC e sugerindo caminhos para a mobilização. Naquele mesmo dia, a Assembleia Geral da Graduação aprovou por grande maioria a tática da greve estudantil, após um processo em que mais de 70 Cursos realizaram assembleias e decidiram por greve ou estado de greve. Um dia depois, a maior Assembleia Geral da história da Pós-Graduação da UFSC também votou maciçamente a favor da greve estudantil na pós. Estamos vendo a história se fazer na UFSC, a partir de nossas mãos, conforme essa jornada de lutas toma força.

Desde então, as servidoras técnicas tiraram um estado de greve; um setor do movimento docente deliberou em assembleia pelo estado de greve e houve as primeiras reuniões de Comitê Geral de Greve, na graduação e pós-graduação. Foram enviados também chamados para que FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil), UNE (União Nacional dos Estudantes) e ANPG (Associação Nacional dos Pós Graduandos) construam uma greve nacional da educação, tendo a FASUBRA deliberado em plenária nacional nesse final de semana apoio à greve na UFSC e construção de um movimento nacional grevista. Ainda há muito a ser dito e refletido sobre esse processo. Nessa primeira carta, gostaríamos de ressaltar três posições, vinculadas diretamente às atividades de mobilização da semana.

1. Só existirá greve nacional da educação se houver greve de servidoras técnicas e docentes na UFSC

A primeira tarefa desta semana é a agitação e convencimento para efetivar a greve via SINTUFSC e APUFSC. Nosso exemplo já foi dado nas últimas duas semanas, mobilizando uma enorme greve estudantil. As servidoras técnicas votam em assembleia nesta terça (17), as docentes em votação online até a quinta (19). São três dias para encher os corredores de faixas, batucaços, cadeiraços e também de diálogo e argumentação com as outras categorias, seja nas salas de trabalho, nos colegiados, nas assembleias de curso e de centro.

Nossos principais argumentos são o significado histórico da greve, como instrumento que trouxe nossas principais conquistas e direitos; o caráter que estamos construindo de uma greve-mobilização, repleta de atividades e com a tarefa de ir ao encontro da comunidade externa à universidade; a importância da paralisação como demonstração explícita para a sociedade sobre os efeitos das atuais políticas para a educação, que inviabilizam a existência da universidade pública; e a capacidade da tática de greve em estimular lutas similares nas outras instituições de ensino e, até mesmo, nas demais categorias de trabalhadoras. Sem a greve, ainda não há alternativa de luta que esteja à altura em termos de força e impacto.

Por fim, se esses argumentos não forem suficientes, é necessário dizer que a categoria estudantil já tomou essa decisão e a greve virou uma realidade, parando a maior parte das aulas e funções da UFSC. A aposta foi feita, não há como retroceder; só resta à comunidade universitária participar dela e fortalecê-la.

2. A organização da greve acontece no Comitê e Comandos de Greve

Autogestão significa democracia de base e federalismo. É do diálogo em cada assembleia de base e reunião de comando de greve que devem sair as propostas para nossas atividades, que precisam ser apresentadas em um espaço de representação de cada assembleia ou reunião de base para uma decisão comum. Por isso, é fundamental que o Comitê Geral de Greve, que reúne os Comandos de Greve de cada Curso, seja um espaço de participação por delegação.

É pedagógico para a luta que toda a militância seja lançada às bases. Quem quer participar, dar propostas, discutir os rumos da greve precisa fazer isso, antes de tudo, na base do seu Curso, Programa, categoria ou coletivo/setor com representação no Comitê Geral. Propostas que não passaram pela base ou participação individual em Comitê Geral de Greve são formas explícitas de vanguardismo e ferem a construção coletiva da luta.

É no processo da luta que construímos um aprendizado político da delegação com controle da base, que deve ser rotativa e levar em frente apenas as propostas decididas nas assembleias e reuniões de base.

3. A greve demonstra sua força lá fora, não aqui dentro

Na segunda semana de greve, já vimos extensos calendários de atividade construídos em cada Curso e Programa, mostrando a disposição de fazer uma greve viva e ativa. No entanto, a maior parte dessas atividades aconteceu dentro da universidade, restrita à comunidade interna, e ainda por cima reproduziu o modelo de funcionamento tradicional da instituição: palestras e aulas se transformaram em aulões públicos, ainda que geralmente com temas mais críticos. Isso não é suficiente e, no limite, desviam nossos esforços de construir uma greve mais forte.

Existem algumas atividades de formação que podemos realizar dentro da Universidade, desde que elas tenham relação direta com a organização da greve e as atividades externas que queremos fazer: oficina de análise de conjuntura; oficina de controle, vigilância e segurança; debates sobre função social da universidade; debates sobre a situação da educação, ciência e tecnologia públicas; oficinas de produção de materiais; debates sobre comunicação e redes sociais; formação sobre greves, seu papel histórico e o direito de greve. Demais temas devem ser discutidos diretamente nas comunidades e espaços públicos, chamando atenção pública para a greve e seus motivos.

A principal forma pela qual nossa greve incomoda o governo federal e os setores privatistas é quando rompemos os muros da UFSC, seja para falar sobre a importância da educação pública, para denunciar os malefícios das políticas que estamos vivendo ou para somar forças com as lutas que já acontecem lá fora. Assim, temos que centrar esforços em organizar atos; panfletagens; fazer propaganda de rua e intervenções artísticas; levar atividades para escolas e espaços comunitários; fazer comunicação nas redes sociais; e levar nossa disposição de apoio e luta para os movimentos sociais já existentes.

Seguimos na construção de uma greve forte na UFSC, rumo à greve geral da educação.

MAIS FORTES SÃO OS PODERES DO POVO!

Coletiva Centospé,

16 de setembro de 2019.

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