Na madrugada de quinta (16) para sexta-feira (17 de agosto) uma pessoa em situação de rua foi brutalmente atacada enquanto dormia próximo ao Centro de Desportos (CDS-UFSC). Se não bastasse a violência sofrida durante a madrugada, a pessoa demorou mais de doze horas para receber socorro e ser encaminhada ao hospital, mesmo após cruzar o campus universitário entre passos e desmaios. O que aconteceu na UFSC foram dois crimes: um crime de ódio com violência física, cometido por pessoas ainda não identificadas; e omissão de socorro por parte da Universidade, em um total descaso com a vida humana.
Na última quarta-feira (22 de agosto), o Movimento Nacional de População de Rua (MNPR-SC) esteve presente na UFSC em um ato no qual somaram inúmeras estudantes em busca de respostas e uma posição da Reitoria sobre o acontecido. Depois de uma mobilização no Varandão do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), o ato rumou até o Gabinete da Reitoria para que uma carta – com reivindicações frente à posição omissa e criminosa da instituição – fosse entregue em mãos para o reitor Ubaldo Balthazar. Entre as ações a serem tomadas pela instituição estão a identificação dos agressores, as reparações à pessoa agredida, identificação dos responsáveis pela omissão de socorro da Universidade, além de formações e campanhas a toda a comunidade no combate às violências cometidas no campus contra populações oprimidas.
No entanto, funcionários da Reitoria nos informaram que o reitor não tem horário de retorno de seu almoço e, até o horário em que estivemos presentes, por volta das 15h, ele não havia chegado. O Chefe de Gabinete, Áureo Moraes, nos recebeu transparecendo uma tranquilidade que não condiz com o crime cometido pela instituição, oferecendo apenas o prazo de começo de setembro para uma possível reunião com o MNPR-SC para responder às demandas.
A omissão de socorro é prevista em lei como crime e poderia ter levado o senhor agredido à morte, tamanha a seriedade do ataque que sofreu. Mesmo estando dentro do campus, a menos de um quilômetro do Hospital Universitário, não houve nenhuma ação do HU para buscá-lo ou atendê-lo onde estava. O SAMU, responsável pelo atendimento de urgências médicas, se negou repetidamente a atender o caso, chegando ao ponto de pedir para que as pessoas parassem de ligar para lá.
Além disso, mesmo com a presença de dezenas de trabalhadores e mais de mil de câmeras do Departamento de Segurança Física e Patrimonial (DESEG) por todo o campus universitário, foi necessária a presença de uma estudante que se indignou com a situação para que, aos gritos, conseguisse convencer os seguranças da DESEG a levar a pessoa ferida até o HU. Essa é a mesma DESEG que, ano passado, já agrediu pessoas que vivem na UFSC e retirou todos os pertences de uma pessoa na semana mais fria do ano. Essa segurança só consegue enxergar as pessoas em situação de rua quando é para tratá-las de forma violenta ou para expulsá-las do campus, implementando uma política de limpeza social no espaço da Universidade
É para a segurança de que tipo de Universidade que a Reitoria instrui a DESEG? Nós lutamos em favor de uma Universidade do povo e para o povo, capaz de reconhecer as pessoas em situação de rua e garantir seus direitos humanos básicos, começando por sua vida. Por isso, repudiamos as contínuas ações da DESEG contra essa população e exigimos que a UFSC reformule sua política de segurança, bem como responsabilize os responsáveis por essa omissão e pelas demais violências, na figura do Secretário de Segurança Institucional, Leandro Luiz de Oliveira, diretor e responsável pela atuação da DESEG.
Não esqueceremos o crime de ódio que aconteceu na semana retrasada nem deixaremos que o crime de omissão de socorro por parte da Universidade passe despercebido. A UFSC e sua segurança devem responder por sua omissão! De agora em diante, exigimos que a Universidade se posicione de forma a acolher as pessoas em situação de rua e sua luta por direitos!
MAIS FORTES SÃO OS PODERES DO POVO!